Público x Privado

Por Domingos Moro

Em termos de Copa do Mundo FIFA 2014, talvez o maior clássico que se anuncia seja o “Público X Privado”.

Foram anunciadas, por exigências do governo brasileiro, doze localidades para a realização dos jogos, dentre as quais nove receberão investimentos públicos diretos e apenas três investimentos privados. O BNDES colocou à disposição uma linha de crédito para as obras, dar-se-á isenção tributária e comenta-se sobre um PAC (outro PAC…) da Copa.

Qual a razão de nenhuma das praças privadas, pertencentes ao Clube Atlético Paranaense (Joaquim Américo Guimarães – Arena da Baixada), ao São Paulo Futebol Clube (Cícero Pompeu de Toledo – Morumbi) e ao Sport Club Internacional (José Pinheiro Borda – Beira-Rio) não terem se socorrido (ou aproveitado) dos financiamentos ofertados? – Simples, além de serem praticamente impagáveis, comprometeriam seriamente as finanças dos clubes e satisfariam exigências díspares e dissociadas de suas reais e efetivas necessidades.

Se para as “praças esportivas públicas” não faltarão projetos megalômanos, incentivos ao turismo, discutíveis licitações, recursos, aditamentos contratuais, reequilíbrios econômico-financeiros e coisas que tal, como fazer ou proceder em relação às praças esportivas privadas?

Por acaso a Copa FIFA é dos clubes em comento? E seriam tais instituições as responsáveis diretas pela realização das edificações (ou reformas/adaptações) exigidas? Como ficam as responsabilidades dos governos em todos os seus níveis federal, estadual e municipal? As praças esportivas foram as escolhidas ou as cidades/estados que as indicaram como sedes dos jogos? E sem estádios podem ocorrer partidas?

Não é aceitável exigir-se o inexigível, o inexplicável e o injustificável!

Não é cabível que seja determinada uma obrigação que não poderá ser satisfeita!

Alguém quer realizar uma festa em minha casa, que se não está completamente pronta atende perfeitamente às minhas necessidades, e determina quais as condições para a realização do ideário evento, então que as custeie (ou viabilize formas de custeio que não me comprometam o futuro), sob pena de buscar outro local.

Ninguém pode estar obrigado a custear algo que não possa orçamentariamente suportar apenas para satisfazer um devaneio.

Ah, um detalhe: a Copa 2014 não é dos clubes citados e sim do Brasil, do Rio Grande do Sul, do Paraná e de São Paulo, a ser realizada em Porto Alegre, Curitiba e São Paulo.

Não vivemos tempos de edificações voluptuárias (que derivam das vontades) e sim das úteis e necessárias (que apresentam utilidade presente e futura e derivam das reais necessidades)…

O Brasil não pode ser um país de vontades e de irresponsabilidades. Tratemos de melhorar nossas estruturas, mas de acordo com nossas efetivas possibilidades.

Fonte: Paraná Online, 14/06/2010 às 13:52:00 – Atualizado em 14/06/2010 às 13:52:34

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